sábado, 9 de fevereiro de 2008

Dois filmes

Ontem foi dia de concentrado de cinema, quem tem filho sabe como é, uma escapulida e todos os filmes bons que se puder ver em um único dia. Com tão pouco tempo, tanto filme em cartaz e uma locadora excelente pertinho de casa (para pegar os filmes menos urgentes ou apetitosos), nessas saídas, só vale o crème de la crème, ao menos dentro de nossa modesta bagagem cinematográfica.
Havíamos selecionado três filmes no guia da semana, mas depois da segunda sessão julgamos que não havia espaço para mais nada. Os escolhidos foram “Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da Rua Fleet”, de Tim Burton, e “Onde os fracos não têm vez”, dos irmãos Coen.
Assistir ao filme do Tim Burton, como sempre, foi uma grande experiência estética, mas desta vez muito mais visceral do que nos filmes anteriores do diretor. As cores desaparecem de vez, com exceção do sangue rubro das vítimas do barbeiro. E a música (sim, trata-se da filmagem de um musical da Broadway), para minha surpresa, caiu como uma luva e acabou dando força à tragédia, que se passa nas ruas fétidas de Londres no século 19. Ratos e homens não se distinguem, aqui, e não há qualquer esperança de redenção.
No filme dos irmãos Coen, a violência também é a tônica, mas senti uma ressaca moral bem maior no final da sessão, talvez por estarmos vivendo exatamente estes tempos de violência globalizada, transnacional, movida a petróleo e drogas. Nos identificamos e sofremos com o velho xerife (magistralmente) interpretado por Tommy Lee Jones, atordoado e absolutamente impotente em meio a uma sociedade desprovida de valores. Aqui, os homens são como os coiotes no deserto.
Bom, foi uma das escapulidas cinematográficas mais proveitosas dos últimos tempos. “Jogo de cena”, do Eduardo Coutinho, ficou na vontade. É torcer para ficar em cartaz mais um tempinho, até a próxima.

Lá se foi mais um carnaval

Lá se foi mais um carnaval. Praticamente invisível, insípido e inodoro, é incrível como quem mora em São Paulo pode simplesmente ignorar a existência da maior festa do país. Aqui ela passa longe, fica bem domesticada lááá no sambódromo. A exceção são as apresentações de bandinhas aqui e ali, tocando as marchinhas que embalaram tantos bailinhos de nossa infância. As crianças de hoje, no entanto, não parecem ver muita graça nas letras de duplo sentido, ou sentido na súbita alegria que toma conta de todos. Sofia, devidamente fantasiada e com os cabelos pintados de cor-de-rosa, não compartilhou do êxtase dos foliões. Observou tudo, mas não levantou um dedinho, nem tentou rebolar ou entrar no clima de ziriguidum. Só virou e falou: vamos embora? Então tá!