quarta-feira, 31 de outubro de 2007

COMÉRCIO NAS RUAS


O hotel fica bem no centro de Juazeiro do Norte, área de comércio de todo tipo, muito parecido com o centro de São Paulo com suas ruas temáticas. Acho que a única diferença daqui é a quantidade de santos espalhados pelas ruas. Aliás, hoje fiz uma santa descoberta voltando para o hotel, quando fiz essa foto: uma lojinha de discos usados, aqueles bolachões mesmo, onde encontrei o Vivo!, de Alceu Valença, um show histórico gravado no Rio de Janeiro no início dos anos 70! A preço de banana, levei outro raro do Gonzaguinha e uma pequena seleção de bons sanfoneiros...mas isso é outra história!

SANTO SEPULCRO


Depois de subir bons sete quilômetros, prepare-se para andar mais dois forçados se quiser conhecer o Santo Sepulcro. Talvez as melhores imagens estejam ali, pois há um percurso com vários oratórios e pequenas capelas onde os romeiros vão ao que vieram. Além de muita oração, velas e cantoria, um hábito dos romeiros é deixar ali, pelas paredes, seus nomes ou uma mensagem de agradecimento por uma graça alcançada.
Bom, um desses locais de reza no Santo Sepulcro é a Capela Senhora Santana, que está num dos pontos mais altos da colina, bem perto do céu. Ali, nosso colega de profissão Antonio Lauro Neto, de 70 anos, faz e vende fotografia para os romeiros. Está lá, firme e forte há 42 anos, com sua Olympus Pen.



FITINHAS FASHION


Bom se o Papa é pop, o que dizer do Padim? Sua imagem é onipresente em Juazeiro do Norte e essa, que estava próxima ao Santo Sepulcro, foi uma feliz arrumação dos romeiros. Aliás, os romeiros capricham no figurino para visitar Padre Cícero. O preto aqui também é básico, uma homenagem ao traje típico do milagreiro cearense.

DONA DODÔ

Depois de passar rápido pela capela do Socorro, iniciei a caminhada de sete quilômetros de subida, sentido ao topo do morro onde está a estátua gigante de Padre Cícero, no Horto. Ainda não eram sete horas e o sol já empurrava para a sombra. Eis que me deparo com um portão aberto com uma bela sala azul indicando que havia algo interessante ali. Era casa de Dona Nonô, mulher santa benzedeira, falecida há dez anos e que ainda recebe a visita de romeiros por lá. A casa, hoje administrada por Maria Izabel (na foto acima e ao lado da cama de Dona Nonô), que conheceu a afilhada do Padin há 34 anos e desde então passou a acompanhá-la, agora serve também como pouso para romeiros. Maria Celestina, por exemplo, vem de Santa Brígida, Bahia, todo ano para Juazeiro do Norte com aproximadamente 30 romeiros e se encarrega de preparar a comida para o seu grupo, que se hospeda em casa de Dona Nonô.
Bom, como eu ainda tinha muito chão pela frente, tomei um café preto e tomei meu rumo, depois de tomar a benção de Maria Izabel.

PÉRPETUO SOCORRO


Hoje saltei eram 4h30' e às cinco já estava na rua, com o Sol prometendo. Parei na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde já havia benzedeiro em ação e o comércio começava a se arrumar para receber os romeiros. O dia começa bem cedo por aqui...

SANTO RANGO


Depois de dois dias na estrada sem tomar banho, devido a uma grave falha logística na minha bagagem (leia-se orelhada+correria=tome!!!!), e uma experiência gastronômica das piores durante o percurso, eis que chego em Juazeiro do Norte no início da tarde da terça-feira louco por um chuveiro e um lugar onde eu pudesse comer sentado, sem pressa e por um preço honesto.
Banho e rua, procurando por um prato decente e generoso. Apesar da fome, o senso crítico me levou para bem longe do hotel, pois não botava fé em nada pelo caminho. Já estava ficando louco, quando de repente surge um boteco bem arrumado, com pinta de restaurante. Entrei perguntando por um simples baião de dois com uma carne de sol, e eis que Edmilson - o dono do local - me responde: "estamos abrindo e pronto mesmo só tem Mungunzá". Assim mesmo, com letra maiúscula, pois o cabra disse que o prato era o fino. Olhei para o meu cinto e resolvi encarar.
Bom, para minha surpresa, minha primeira refeição em terras do Padim foi inesquecível. O cozido preparado a base de milho e feijão mulatinho, misturado com bucho de boi, charque e mocotó de porco, bem temperado com coloral, coentro e alho me fez lembrar de fotografá-lo somente depois de te-lo abatido. Bom, taí o que sobrou do danado. Deu um calor da peste...

RUMO AO CARIRI


São 43 horas de viagem de ônibus de São Paulo a Juazeiro do Norte, no Ceará. No início comecei a contar as paradas, mas foram tantas e acabei dormindo entre uma e outra e dexei essa mania para lá. Passamos por Caçapava, Queluz, Volta Redonda, Paraíba do Sul, Ibiturama, Teófilo Otoni, Jequiá, Feira de Santana e por aí vai. A partir do norte de Minas a paisagem foi ficando mais seca, dona Ana olha pela janela numa das tantas paradas esperando ansiosa a chegada em Abaiara, Pernambuco, sua terra natal. Mais paradas, mais estrada...


PLATAFORMA 55


Domingo dia 28 de outubro de 2007, dezoito horas. Os parentes e amigos acenavam para o convencional da Itapemirim que partia da plataforma 55 da rodoviária do Tietê, com destino a Juazeiro do Norte. Eu, que ocupava a poltrona 32, achei engraçado, pois havia mais gente lá fora do que dentro do ônibus.
Bom, foi dada a partida...

sábado, 27 de outubro de 2007

Tem dias que...



(...)
me levou 15 anos para humanizar a poesia
mas será preciso mais do que eu
para humanizar a humanidade.

As boas almas não irão fazê-lo
a anarquia não irá fazê-lo
pretos
amarelos
índios
latinos
eles não irão fazê-lo

acredito na força da mão sangrenta
acredito no gelo eterno
eu exijo que nós morramos
de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade
de nós mesmos
esticados sobre nós mesmos.
(...)

(Charles Bukowski)
Vou plantar capim no meu quintal. Vou comprar uma vaca e todo dia de manhã puxar um banquinho, sentar embaixo do seu úbere e tirar dois litros de leite gordo. Sem antibiótico ou soda cáustica. Em retribuição, lhe darei capim verdinho e aspirarei sem nojo o cheiro de seu cocô de capim, quando o sol bater sobre ele.