terça-feira, 13 de maio de 2008

Seu José


José Inácio de Almeida, 69 anos, é natural de São Luiz do Paraitinga. Foi seminarista por cinco anos durante sua juventude, e hoje é - fez questão que eu anotasse direitinho - um irmão franciscano, congregado mariano e vicentino. Me mostrou uma bela medalha de Santa Maria, um terço singular e, depois de dizer inúmeras vezes que eu me parecia com Jesus, deu-me um sermão de pelo menos 15 minutos sobre a humildade e simplicidade. Depois de pelo menos quatro abraços nos despedimos, mas antes seu José declamou um belo poema caipirade sua autoria que, infelizmente, se esvaiu em minha memória como a fumaça saindo dos tachos. Ficou somente o registro do brilho nos olhos.

SÁBADO COM O DIVINO

Eis que a família Bianco Vitorino acordou na manhã deste sábado em São Luiz do Paraitinga, para testemunhar mais um encerramento da centenária Festa do Divino, no Vale do Paraíba. O dia amanheceu nublado e a localização do hotel - praticamente ao lado do Centro de Exposições - nos levou diretamente ao galpão onde um pelotão abençoado passara a noite preparando o afogado, prato típico da festa que mais tarde seria servido a uma multidão de sabe-se lá quantas mil pessoas.

O Dorvo, ao centro da foto aí de cima, é o homem responsável pelo preparo do afogado, quem decide se os tachos de ferro devem receber mais cominho, sal, cebola, salsa ou água para prolongar o cozimento, dar mais ou menos densidade ao caldo.

A comida pronta começa a ser dividida em grandes panelas para servir a população que já fazia fila do lado de fora.


Antonio de Moura, 68 anos, trabalha há mais de 20 anos ali no afogado, responsabilidade que vem transmitindo ao seu filho Lucas de Moura, de 12 anos, e que há seis já freqüenta os bastidores da Festa do Divino.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O dilema de Ronaldo

Ele foi casado com a Suzana, a Milene, a Daniela, e na semana passada, depois de anos de muita esbórnia e (pouco) futebol, eis que Ronaldo, Ronalducho, o fenômeno, volta às primeiras páginas dos jornais. Em mais uma daquelas comemorações regadas a sexo e pagode, nosso anti-herói dentuço se perde na noite carioca a bordo de três travestis, arma o maior fuzuê num motel várzea total e depois dá aquela desculpa clássica. Ok, ok, nós acreditamos. Olha a abordagem que o Francisco Bosco dá ao assunto, no delicioso Banalogias: "O desejo pelas travestis não é um homossexualismo enrustido. É uma questão lógica que a singularidade anatômica das travestis, produzindo um ser que não é nem homem, nem mulher, produz conseqüentemente um desejo que não é nem homo, nem heterosexual. Desejar uma travesti é desejar uma determinada economia entre homem e mulher, entre masculino e feminino. Uma economia híbrida, ambivalente, sobretudo ao nível da própria anatomia. (...) O desejo pela travesti é correlato, ao nível anatômico, do desejo pelas mulheres fálicas, isto é, pelas mulheres que assumem um papel social masculino. Em ambos os casos, é uma ambigüidade que mobiliza o desejo, sendo importante essa ambigüidade que, finalmente, define-o, exigindo para si também uma nomeação singular, capaz de fazer justiça conceitual à sua singularidade: o desejo pelas travestis não é nem homo, nem hetero, mas heteromo, ou homoétero". Está bem assim, Ronaldo? Depois reproduzo outras pérolas do livro aqui, prometo.