quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

CIDADE SUBMERSA

Chuva em São Paulo é sinônimo de caos. E o trânsito sufocado pelo pára-brisa, submerso no enquadramento, deixa suspenso em azul o concreto de quem prefere olhar para o céu e agradecer a água.

MEDO DE AVIÃO?

Confesso que prefiro o calor do asfalto. Mas quem é que pode se sentir mal a sei lá quantos mil metros de altura, com Paulinha assim, te olhando como que pronta para realizar seu último desejo...
Aliás, a entrevista publicada na revista de bordo da GOL estava sem sal, sem açúcar, destoando das belas fotografias. O pessoal da Trip sabe mesmo fazer revistas e vem atuando há tempos - e com classe - nesse rico segmento de custom publishing, mas um detalhe me chamou atenção. É que boa parte do conteúdo publicado na revista da GOL vinha com um "crédito" ao final da matéria que dizia mais ou menos o seguinte: matéria originalmente publicada na revista Trip (ou TPM, dependia da matéria), gentilmente cedida para a revista da GOL. Olha a editora Abril aí fazendo escola...

sábado, 8 de dezembro de 2007

Comer, beber, viver

Rong He é um nome musical. Nesse restaurante chinês especializado em massas, as pessoas parecem mesmo ficar mais felizes. Até as risadas dos comensais são gostosas como há muito não ouvia. Talvez seja o ambiente exuberante, ou talvez o cozinheiro preparando as massas à vista dos clientes, estica, estica com as duas mãos como se fosse pular corda, trança e repete tudo de novo. Ou, talvez seja tão-somente a boa comida, que faz a gente se sentir assim, misteriosamente feliz.

A caixinha

Ontem, como todos os dias, passei no mercadinho perto de casa para pegar um daqueles itens que sempre escapam das listinhas de compras. Estava esperando o moço fatiar alguns frios quando empurrei sem querer a caixinha que nessa época do ano aparece sobre todos os balcões. A bichinha começou a apitar desesperada, e eu sem entender nada. E não é que a caixinha, dessas de papelão com um furo em cima, tinha um alarme acoplado na parte de trás? Fiquei me perguntando se alguém já teve a cara-de-pau de sair correndo com o Papai Noel dos funcionários.

Bouquet

Sofia, 6 anos, gosta de enfiar o nariz na taça quando estamos bebendo vinho e dar sua opinião sobre o bouquet. Noite dessas estávamos (os adultos) bebendo um alentejano que havia sido escolhido por ela mesma, encantada com o rótulo cor-de-rosa.
- Tem cheiro de... uva, cereja, maçã, chocolate, e... educação física!

domingo, 4 de novembro de 2007

MINHAS ÚLTIMAS LUZES DE JUAZEIRO


Domingo quente e preguiçoso em Juazeiro do Norte. Mesmo assim, insisti em sair pelas ruas com a 50mm e um filme de slide na máquina para passar o tempo, pois havia marcado de visitar o terreiro do Reisado dos Irmãos, do mestre Toninho, que fica no bairro de João Cabral, uma espécie de celeiro de talentos populares juazeirenses.
O reisado é uma manifestação cultural bastante forte aqui no Cariri, com seus mestres, reis, rainhas, princesas, palhaços, lutas de espada entre os batedores, entremeios com personagens da tradição popular como o pássaro Jaraguá, bois, lobisomens, Mamãe Velha, Pai da Mata e por aí vai. Só em Juazeiro do Norte há registros de aproximadamente 20 grupos de reisado organizados e na ativa.
Foi um início de noite no final da viagem para fazer vontade de retornar ao Cariri assim que puder. Ao mesmo tempo em que estou com saudade de casa, louco para rever minhas meninas, já me pego em pensamento sobre quando será o próximo encontro com João Lourenço Stênio Diniz e o pessoal da AMAR, João Braz, Dona Dora e Mestre Antonio, Manel do Sebo e tanta gente que me recebeu de braços abertos por aqui, terra rica e próspera em cultura realmente produzida pelo povo.


ENSAIANDO O GRITO


Na noite desse sábado estive no bairro de João Cabral, onde há um grupo de Reisado muito respeitado, comandado por Mestre Antonio. É um trabalho muito bonito, tocado de forma completamente independente pelos próprios familiares e amigos da comunidade nos últimos 10 anos. De uns tempos para cá resolveram se organizar como uma associação cultural e assim têm conseguido dar uma certa sustentabilidade à brincadeira do Reisado, ensinando as crianças, envolvendo os jovens. Ontem foi só um ensaio numa garagem que parecia tremer ao som da zabumba e do pífano. Devo voltar para lá nessa tarde de domingo, pois pode ser que eles façam uma apresentação, com toda a riqueza dos paramentos.

NO PAU-DE-ARARA


O último sorvete das crianças romeiras em Juazeiro do Norte, antes do caminhão entrar na estrada levando a família para casa. Estima-se que a cidade tenha recebido algo em torno de 200 mil romeiros nesse finados.

sábado, 3 de novembro de 2007

GRAN FINALE SERTANEJO

A missa de despedida, oferecida em homenagem aos romeiros, aconteceu hoje na igreja Matriz, ao meio-dia. Casa lotada, muita água benta, gente desmaiando por causa do calor e participação entusiasmada da platéia.
Depois disso, era grande o movimento dos paus-de-arara na cidade, cada um tomando o seu rumo para as mais diversas cidades desse sertão brasileiro.

FOTO SÃO JOÃO


João Braz da Silva, 70 anos, fotografa os festejos pelo Brasil há aproximadamente 47 anos. Natural de Lagoa dos Gatos, Pernambuco, se criou em Juazeiro do Norte, para onde foi com os pais aos quatro meses de vida.
Encostei em sua tenda-estúdio na verdade para conversar com Isaías, que era quem estava fotografando os romeiros e eis que seu João ficou ali, rodeando a conversa. Passei a fitá-lo com mais atenção, pois ele me olhava como se me conhecesse ou então como se eu devesse conhecê-lo. Perguntei: o senhor não trabalhava em Bom Jesus da Lapa? A resposta veio afirmativa e pensei ter desvendado o pequeno mistério, mas seu João fez questão de que eu soubesse mais e começou a contar. João Braz da Silva é o homem, fotógrafo de verdade, que emprestou todo o seu equipamento e assumiu o papel de fotógrafo lambe-lambe no filme Central do Brasil, de Walter Sales. Aproveitei para sanar uma dúvida que me perseguia: em que raio de romaria foi rodada a cena, para mim uma das mais marcantes do filme? Foi então que seu João me explicou que a cena foi filmada em Cruzeiro do Nordeste, pequena cidade pernambucana, e que igreja, santuário e tudo o mais foram cenários erguidos pela produção. "Aquela romaria não existe, meu filho".

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

NEM TUDO É OCRE


Essa imagem é só para fechar o dia, pois foi bom fazê-la. São crianças brincando num cajueiro, no caminho para o Santo Sepulcro.

GRAVANDO A VIDA


O perfil acima é de Stênio Diniz, um dos principais nomes da xilogravura aqui pelo Cariri. Figura respeitada, polêmica, generosa e super divertida, Stênio é um dos mestres do Lira Nordestina, uma espécie de ateliê aberto de xilogravura que tem funcionado dentro da Universidade Regional do Cariri, aqui em Juazeiro do Norte.
Na verdade, Lira Nordestina é o nome que foi sugerido por Patativa do Assaré ao projeto de Stênio de dar novo rumo à Tipografia São Francisco, de seu avô e poeta José Bernardo da Silva, pioneiro da literatura de cordel e do uso maciço da xilogravura em terras de Padre Cícero, lá pelos anos 20.
Ao lado, a reprodução de uma matriz de autoria de Manoel Inácio, um artista plástico local que já trabalhava com desenho e pintura e que há um ano vem se dedicando à xilogravura, freqüentando os encontros quase diários no Lira. Aí embaixo, José Lourenço, também um dos principais gravadores populares aqui de Juazeiro do Norte. Sua produção está essencialmente voltada para a cultura local, tendo produzido belos álbuns sobre a história de Padre Cícero e Patativa do Assaré, entre outros. Ah! Como se não bastasse, ele é um ótimo vendedor. Saí de lá hoje com várias estampas em papel, um conjunto de pequenas matrizes-carimbo em imburana, um jogo de xilo-postais e uma bela série de cordéis.
Bom, agora é economizar pelos próximos dias. Essa bela aquisição vai me deixar mais feliz ao encarar os PFs de quatro reais. O Baião de Dois é uma delícia mas tem limite!

HOJE O DIA ESTAVA MEIO COR-DE-ROSA




Apenas algumas imagens feitas hoje, uma no pé da estátua do Padre Cícero, as outras duas no Santo Sepulcro.

SANTO SEPULCRO AGAIN


Juro que pensei que não fosse conseguir acordar por dois dias seguidos às quatro da manhã para fotografar. Cristiano Mascaro sempre avisou sobre as primeiras luzes da manhã mas eu sempre preferi os finais de tarde, por comodidade, é claro. Mas enfim, em Juazeiro do Norte o dia começa mesmo às quatro e meia da manhã, e pelas nove o calor já está insuportável para um paulistano casca fina.
Hoje fui ao Santo Sepulcro novamente e para suportar a caminhada sob o sol, mesmo às cinco da manhã, água é fundamental. Alguns romeiros levam suas próprias pets.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

COMÉRCIO NAS RUAS


O hotel fica bem no centro de Juazeiro do Norte, área de comércio de todo tipo, muito parecido com o centro de São Paulo com suas ruas temáticas. Acho que a única diferença daqui é a quantidade de santos espalhados pelas ruas. Aliás, hoje fiz uma santa descoberta voltando para o hotel, quando fiz essa foto: uma lojinha de discos usados, aqueles bolachões mesmo, onde encontrei o Vivo!, de Alceu Valença, um show histórico gravado no Rio de Janeiro no início dos anos 70! A preço de banana, levei outro raro do Gonzaguinha e uma pequena seleção de bons sanfoneiros...mas isso é outra história!

SANTO SEPULCRO


Depois de subir bons sete quilômetros, prepare-se para andar mais dois forçados se quiser conhecer o Santo Sepulcro. Talvez as melhores imagens estejam ali, pois há um percurso com vários oratórios e pequenas capelas onde os romeiros vão ao que vieram. Além de muita oração, velas e cantoria, um hábito dos romeiros é deixar ali, pelas paredes, seus nomes ou uma mensagem de agradecimento por uma graça alcançada.
Bom, um desses locais de reza no Santo Sepulcro é a Capela Senhora Santana, que está num dos pontos mais altos da colina, bem perto do céu. Ali, nosso colega de profissão Antonio Lauro Neto, de 70 anos, faz e vende fotografia para os romeiros. Está lá, firme e forte há 42 anos, com sua Olympus Pen.



FITINHAS FASHION


Bom se o Papa é pop, o que dizer do Padim? Sua imagem é onipresente em Juazeiro do Norte e essa, que estava próxima ao Santo Sepulcro, foi uma feliz arrumação dos romeiros. Aliás, os romeiros capricham no figurino para visitar Padre Cícero. O preto aqui também é básico, uma homenagem ao traje típico do milagreiro cearense.

DONA DODÔ

Depois de passar rápido pela capela do Socorro, iniciei a caminhada de sete quilômetros de subida, sentido ao topo do morro onde está a estátua gigante de Padre Cícero, no Horto. Ainda não eram sete horas e o sol já empurrava para a sombra. Eis que me deparo com um portão aberto com uma bela sala azul indicando que havia algo interessante ali. Era casa de Dona Nonô, mulher santa benzedeira, falecida há dez anos e que ainda recebe a visita de romeiros por lá. A casa, hoje administrada por Maria Izabel (na foto acima e ao lado da cama de Dona Nonô), que conheceu a afilhada do Padin há 34 anos e desde então passou a acompanhá-la, agora serve também como pouso para romeiros. Maria Celestina, por exemplo, vem de Santa Brígida, Bahia, todo ano para Juazeiro do Norte com aproximadamente 30 romeiros e se encarrega de preparar a comida para o seu grupo, que se hospeda em casa de Dona Nonô.
Bom, como eu ainda tinha muito chão pela frente, tomei um café preto e tomei meu rumo, depois de tomar a benção de Maria Izabel.

PÉRPETUO SOCORRO


Hoje saltei eram 4h30' e às cinco já estava na rua, com o Sol prometendo. Parei na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde já havia benzedeiro em ação e o comércio começava a se arrumar para receber os romeiros. O dia começa bem cedo por aqui...

SANTO RANGO


Depois de dois dias na estrada sem tomar banho, devido a uma grave falha logística na minha bagagem (leia-se orelhada+correria=tome!!!!), e uma experiência gastronômica das piores durante o percurso, eis que chego em Juazeiro do Norte no início da tarde da terça-feira louco por um chuveiro e um lugar onde eu pudesse comer sentado, sem pressa e por um preço honesto.
Banho e rua, procurando por um prato decente e generoso. Apesar da fome, o senso crítico me levou para bem longe do hotel, pois não botava fé em nada pelo caminho. Já estava ficando louco, quando de repente surge um boteco bem arrumado, com pinta de restaurante. Entrei perguntando por um simples baião de dois com uma carne de sol, e eis que Edmilson - o dono do local - me responde: "estamos abrindo e pronto mesmo só tem Mungunzá". Assim mesmo, com letra maiúscula, pois o cabra disse que o prato era o fino. Olhei para o meu cinto e resolvi encarar.
Bom, para minha surpresa, minha primeira refeição em terras do Padim foi inesquecível. O cozido preparado a base de milho e feijão mulatinho, misturado com bucho de boi, charque e mocotó de porco, bem temperado com coloral, coentro e alho me fez lembrar de fotografá-lo somente depois de te-lo abatido. Bom, taí o que sobrou do danado. Deu um calor da peste...

RUMO AO CARIRI


São 43 horas de viagem de ônibus de São Paulo a Juazeiro do Norte, no Ceará. No início comecei a contar as paradas, mas foram tantas e acabei dormindo entre uma e outra e dexei essa mania para lá. Passamos por Caçapava, Queluz, Volta Redonda, Paraíba do Sul, Ibiturama, Teófilo Otoni, Jequiá, Feira de Santana e por aí vai. A partir do norte de Minas a paisagem foi ficando mais seca, dona Ana olha pela janela numa das tantas paradas esperando ansiosa a chegada em Abaiara, Pernambuco, sua terra natal. Mais paradas, mais estrada...


PLATAFORMA 55


Domingo dia 28 de outubro de 2007, dezoito horas. Os parentes e amigos acenavam para o convencional da Itapemirim que partia da plataforma 55 da rodoviária do Tietê, com destino a Juazeiro do Norte. Eu, que ocupava a poltrona 32, achei engraçado, pois havia mais gente lá fora do que dentro do ônibus.
Bom, foi dada a partida...

sábado, 27 de outubro de 2007

Tem dias que...



(...)
me levou 15 anos para humanizar a poesia
mas será preciso mais do que eu
para humanizar a humanidade.

As boas almas não irão fazê-lo
a anarquia não irá fazê-lo
pretos
amarelos
índios
latinos
eles não irão fazê-lo

acredito na força da mão sangrenta
acredito no gelo eterno
eu exijo que nós morramos
de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade
de nós mesmos
esticados sobre nós mesmos.
(...)

(Charles Bukowski)
Vou plantar capim no meu quintal. Vou comprar uma vaca e todo dia de manhã puxar um banquinho, sentar embaixo do seu úbere e tirar dois litros de leite gordo. Sem antibiótico ou soda cáustica. Em retribuição, lhe darei capim verdinho e aspirarei sem nojo o cheiro de seu cocô de capim, quando o sol bater sobre ele.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

...

- Oi!
- Oi.
- Faz tempo que você não passa por aqui...
- Pois é...
- Nem parece a dona...
- Este é o pedaço que me cabe nesse latifúndio? Pfffff...
- Faz um mês que você não posta nada, que vergonha!
- Pode crer, uma vergonha, um mês sem escrever nada profundamente relevante, nem uma poesiazinha pra encher umas linhas e mostrar aos incontáveis leitores meu verdadeiro eu, ó...
- O que aconteceu?
- O que aconteceu, onde? No Senado, no Rio, em São Ludgero, em São Paulo, em Santo André? Na Dinamarca? Lá em casa? Aconteceu uma porrada de coisas e eu já não lembro mais... lembro que hoje no almoço comi tainha assada e lembrei da Festa da Tainha de Florianópolis. É o suficiente?
- Xiiii, acho que você está precisando de uma massagem no seu Kawata. Tá muito pra baixo.
- É, talvez o seu Kawata conseguisse tirar algumas penas das minhas costas.
- ...tchau, se cuida.
- ...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O VELHO BOM


Marcopablo e banda fizeram um pocket show na quarta passada, no CB Bar, ali na Barra Funda. Um som bluespunkrock bem executado e que me fez dormir feliz. Depois do show, é claro...
Para quem quiser conhecer um pouco do som, é só passar na Trama Virtual ( http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=11178 ).

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

ENTRE O CAOS E A LINHA


Na manhã de ontem, quarta-feira, o Núcleo de Fotografia da Casa do Olhar estava mais uma vez pelas ruas de Santo André, dessa vez acompanhado dos professores do IMES Silvia Passarelli, Artur Cole e José Romero.
O trio está trabalhando num belo projeto que propõe uma investigação do espaço urbano nas sete cidades do ABC, identificando o patrimônio cultural, ambiental e os marcos da identidade local e regional, utilizando-se principalmente da imagem como ferramenta para uma leitura perceptiva do espaço. Na etapa andreense, os fotógrafos do Núcleo foram convidados a flanar por um trecho entre a Casa do Olhar e a estação ferroviária de Santo André. Essas duas fotos eu fiz ali, na calçada-limiar que separa a retidão da linha férrea do caótico comércio popular.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Os numerinhos e as pessoas

A primeira citação (ou melhor, reprodução) deste blog vai para Eduardo Galeano, em O Livro dos Abraços.
"Onde se recebe a Renda per Capita? Tem muito morto de fome querendo saber.
Em nossas terras, os numerinhos têm melhor sorte que as pessoas. Quantos vão bem quando a economia vai bem? Quantos se desenvolvem com o desenvolvimento?
Em Cuba, a Revolução triunfou no ano mais próspero de toda a história econômica da ilha.
Na América Central, as estatísticas sorriam e riam quanto mais fodidas e desesperadas estavam as pessoas. Nas décadas de 50, de 60, de 70, anos atormentados, tempos turbulentos, a América Central exibia os índices de crescimento econômico mais altos do mundo e o maior desenvolvimento regional da história humana.
Na Colômbia, os rios de sangue cruzam os rios de ouro. Esplendores da economia, anos de dinheiro fácil: em plena euforia, o país produz cocaína, café e crimes em quantidades enlouquecidas."

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O Pan e o luto

Até o acaso conspira contra a alegria dos brasileiros, que logo tiveram que arquivar a comemoração pelo bem desempenho no Pan para chorar pelos mortos na queda de mais um avião. No mesmo dia, 18 medalhas nas mãos dos atletas brasileiros e 180 mortos no que os apresentadores de TV não cansam de chamar de 'o maior acidente aéreo da história do país'. Recorde macabro, que devemos aos nossos competentes políticos, ANAC, Infraero, empreiteiras... Qualquer um que já tenha aterrissado em Congonhas sabe o frio na barriga que dá, com aquela pista curta e o mar de prédios ao redor. Dia desses passei pelo Terminal rodoviário Tietê, confortável e com infra-estrutura perfeitamente capaz de atender ao grande fluxo de passageiros e saquei: Congonhas virou uma rodoviária, como o Tietê era tempos atrás, com excesso de gente e conforto zero. Rotas demais, centenas de vôos chegando e partindo, um suplício para quem mora nas redondezas, que afinal não tem culpa se a voracidade do mercado imobiliário cercou o aeroporto de prédios, casas e comércio. Quanto tempo vão demorar para fechar Congonhas ou, na melhor das hipóteses, limitar severamente suas operações?

domingo, 15 de julho de 2007

CHAFARIZ CASUAL











Uma tubulação rompida pode não ser um bom negócio, mas faz a alegria de quem habita as ruas cinzas e frias de São Paulo. Enquanto o funcionário da Sabesp aguarda reforço para consertar o estrago, houve quem visse ali um belo chafariz...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

(identidade 2)

Lá pela trigésima tatuagem queria sua pele de volta.

(identidade 1)

Quanto mais arduamente tentavam ser diferentes, mais iguais ficavam.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Um homem

Ele me pareceu mais belo
do que qualquer pessoa
naquele momento, naquele vagão,
com seu rosto marcado
e as manchas de velhice sob os cabelos brancos.
Durante quase uma eternidade olhei-o, sem discrição.
Talvez fossem as orelhas pequenas,
ou as mãos imensas, tortas, trêmulas.
Talvez a roupa azul, uniforme de menino,
o chapeuzinho de tecido pousado no colo,
ou os olhos quietos de quem já viu muito.
Talvez, quem sabe, a resposta estivesse em seus sapatos marrons,
velhos e impecáveis em seu brilho. Cheios de dignidade.
Ele desceu rapidamente na Consolação,
e eu fiquei sem saber.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

...ainda sobre parques

Quando é que vão tirar as grades em volta dos parques e praças de São Paulo, herança da administração Jânio Quadros? Elas costumam funcionar à avessas, como a cabeça do ilustríssimo político em questão...

Da Aclimação

Notícias paroquiais, ou nem tanto: hoje li nos jornais que o Conpresp (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de São Paulo) vetou construções com mais de 10 metros no entorno do Parque da Aclimação, que é tombado desde a década de 80. Grande notícia!! Fiquei especialmente feliz ao saber que, com a medida, uma construtora que havia arrematado o antigo prédio do colégio Anglo Latino terá que desistir de lançar um espigão residencial coladinho no parque. A ironia é que décadas atrás o colégio teria se apropriado de áreas pertencentes ao parque, com o apoio de manobras de alguns vereadores. Quem sabe agora eles não devolvem o terreno à população? Uai, não custa sonhar! E se é pra sonhar, vamos lá: eu acho que mais do que avaliar a adequação dos imóveis dentro do plano diretor, a prefeitura deveria levar em conta, de verdade, o valor e o impacto urbanístico deles na região. Dois exemplos de absurdo aqui bem pertinho: 1) a demolição de casas antigas na Avenida Aclimação (ao lado do parque, mais uma vez) para a construção de um McDonald’s, dentro do seu padrão de ‘fast arquitetura’; 2) a construção do Shopping Metrô Santa Cruz, que no papel seria um belo prédio em estilo neoclássico, evocando as antigas estações de trem, blá blá blá, e na realidade se transformou em um monumento ao mau gosto, um caixote de concreto pré-moldado que agride a paisagem urbana, mesmo em São Paulo, e piora muito o trânsito da região.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

5 perguntas sobre o Cristo

- Alguém que votou no Cristo para entrar no rol da 7 maravilhas do mundo moderno indicaria sem vacilar o Rio de Janeiro como destino turístico para um parente ou amigo?

- Caso o Cristo seja eleito ele vai dar uma mãozinha para mudar a situação de insegurança e de abandono na cidade por parte do poder público?

- Caso o Cristo seja eleito o brasileiro o tomará como exemplo e deixará de votar em políticos reconhecidamente corruptos e safados?

- Caso o Cristo seja eleito deixaremos de lado nossa ancestral baixa auto-estima e bunda-molice?

- Caso o Cristo seja finalmente eleito nos preocuparemos com coisas mais relevantes?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Um feriado em Santa Rita

No último feriadão, enquanto a capital fervia com a Parada Gay na Avenida Paulista, decidimos fazer o caminho inverso e sair da cidade, depois de mais de seis meses ininterruptos sob o céu de São Paulo. Fomos para o interior, para a região de Santa Rita do Passa Quatro, antiga terra de cafezais, hoje dominada pela cana.
Na quinta-feira, logo ao chegar, nos deparamos com a procissão de Corpus Christi em volta da praça da Matriz. Um verdadeiro evento: tapete feito pelos moradores, fanfarra, fogos, palmas, gritos de ‘Viva Jesus’ e discurso do pároco garantindo que a fé no Nazareno é a solução para os problemas do mundo; não vi muitos jovens por lá, a maioria era formada por velhos, adultos e crianças.
Mas certamente os jovens estavam no show do artesão-andarilho-popstar Ventania, que aconteceu no sábado em uma linda fazenda da região. Qual é o nível máximo de BG (bicho-grilice) que você consegue imaginar? Multiplique por 10 e talvez você consiga ter uma idéia da figura de Ventania, oriundo de São Tomé das Letras, com seu chapéu de bruxo e chinelos de couro, em permanente chapação. Foi divertido ver um bando de menininhas bonitinhas se batendo para tirar foto com aquele ser definitivamente distante de qualquer padrão de beleza e totalmente siderado. No terreiro da fazenda, onde há uns 80 anos se colocava café para secar, cerca de dois mil jovens da cidade e arredores se sacudiam com a voz áspera de Ventania e sua banda no palco enfumaçado pelos baseados tamanho família. “Micróbio que se preza vive a vida a rodar/fazendo do planeta sua sala de estar/micróbio bicho doido de cabelo embaraçado tira férias o ano inteiro, vive desocupado/ micróbio não tem medo de nada/ micróóóbiiioooo...”. Curiosidade: o telão ao lado do palco não transmitia o show do micróbio, mas sim imagens de Woodstock. Surreal, você vê Jimmy Hendrix e ouve Ventania.
No domingo, ali do lado, em Tambaú, jovens e velhos finalmente se encontraram, em mais um campeonato de truco, disputado no grito por 60 duplas. Durou o dia inteiro. O primeiro prêmio era uma TV de 20 polegadas, o segundo um DVD player, e o terceiro um pacote de cerveja. Um amigo que ia participar do campeonato (fez o sacrifício de levantar cedo depois do show de sábado) me confessou que estava torcendo mesmo era para ficar com o terceiro lugar...


Um feriado em Santa Rita









terça-feira, 29 de maio de 2007

Sobre livros e Clarice

Quando eu era criança, ganhava brinquedos e roupas (estas sob protestos); depois, jovem, discos, livros; adulta, os presentes preferidos passaram a ser mesmo os livros, que não têm prazo de validade, não deformam e são absolutamente wireless e portáteis. Nada mais útil, eterno, atual, pessoal, enriquecedor, embora nos últimos anos eles venham se acumulando numa pequena montanha, à espera do tempo para leitura, que nunca chega.
Neste último aniversário, um dia chuvoso e frio de maio (brrrrr....cadê os lindos dias de outono?), recebi uma seqüência de presentes deliciosos da família e dos amigos mais chegados, capazes de derreter mesmo grossas camadas de gelo: chocolate, flores DVD e, é claro, os livros: “Quase memória”, de Carlos Heitor Cony, “Um filme é para sempre”, de Ruy Castro e “Clarice Lispector – Entrevistas”.
Como jornalista e fascinada pelo mundo íntimo, profundo e misterioso criado por Clarice em seus livros, ataquei de imediato o conjunto de entrevistas feitas pela escritora para as revistas Manchete e Fatos & Fotos. Queria conhecer uma outra Clarice, mais exposta, que, sem ser, estava jornalista. Nas suas entrevistas não há traço de agressividade, ou a arrogância comum aos textos feitos pelos profissionais de redação. Clarice assume uma persona tão fascinante quanto a outra, de escritora cultuada. Da entrevistadora que desce ao chão e, ao se expor, convida o entrevistado a também mostrar seu mundo e seus sentimentos; a da interlocutora que não tem medo de fazer perguntas essenciais (ou absolutamente pueris, depende do ponto de vista) - e de receber, por vezes, respostas monossilábicas e sem graça (“O amor é o amor”, limitou-se a dizer Pablo Neruda, o autor de centenas de sonetos de amor). Mas estratégia da alteridade e do risco valeu a pena, porque de outras vezes Clarice recebeu respostas que são verdadeiros presentes.

Uma de minhas preferidas é a entrevista com Nelson Rodrigues. Dois trechos:

Nelson, você se referiu à solidão. Você se sente um homem só?
Do ponto de vista amoroso eu encontrei a Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal.

Ah, Nelson, isso é tão verdadeiro.
Mas, diante do resto do mundo eu sou um homem maravilhosamente só. Uma vez fiquei gravemente doente, doente para morrer. Recebi em três meses de agonia três visitas, uma por mês. Note-se que minha doença foi promovida em primeiras páginas. Aí, eu sofri na carne e na alma esta verdade intolerável: o amigo não existe. (…) Eis o que eu queria dizer: o amigo possível e certo é o desconhecido com que cruzamos por um instante e nunca mais. A esse podemos amar e por esses podemos ser amados. O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.

sábado, 12 de maio de 2007

Dentro e fora

Dois pontos de vista para Aparecida...enquanto o Papa não vem!

Enquanto o Papa nåo vem...


Na sexta-feira Aparecida ainda trabalhava duro para receber o santo Padre, que estava com chegada prevista na cidade para as 19h. No meio da tarde os fiéis já começavam a chegar dos mais variados lugares, carpinteiros faziam os arremates nas estruturas de última hora e técnicos terminavam os ajustes nas toneladas de equipamentos enquanto as faxineiras faziam a sua parte. Tudo tinha que estar muito limpo e funcionando para o sábado, quando aconteceria a missa do rosário na basílica.