domingo, 4 de novembro de 2007

MINHAS ÚLTIMAS LUZES DE JUAZEIRO


Domingo quente e preguiçoso em Juazeiro do Norte. Mesmo assim, insisti em sair pelas ruas com a 50mm e um filme de slide na máquina para passar o tempo, pois havia marcado de visitar o terreiro do Reisado dos Irmãos, do mestre Toninho, que fica no bairro de João Cabral, uma espécie de celeiro de talentos populares juazeirenses.
O reisado é uma manifestação cultural bastante forte aqui no Cariri, com seus mestres, reis, rainhas, princesas, palhaços, lutas de espada entre os batedores, entremeios com personagens da tradição popular como o pássaro Jaraguá, bois, lobisomens, Mamãe Velha, Pai da Mata e por aí vai. Só em Juazeiro do Norte há registros de aproximadamente 20 grupos de reisado organizados e na ativa.
Foi um início de noite no final da viagem para fazer vontade de retornar ao Cariri assim que puder. Ao mesmo tempo em que estou com saudade de casa, louco para rever minhas meninas, já me pego em pensamento sobre quando será o próximo encontro com João Lourenço Stênio Diniz e o pessoal da AMAR, João Braz, Dona Dora e Mestre Antonio, Manel do Sebo e tanta gente que me recebeu de braços abertos por aqui, terra rica e próspera em cultura realmente produzida pelo povo.


ENSAIANDO O GRITO


Na noite desse sábado estive no bairro de João Cabral, onde há um grupo de Reisado muito respeitado, comandado por Mestre Antonio. É um trabalho muito bonito, tocado de forma completamente independente pelos próprios familiares e amigos da comunidade nos últimos 10 anos. De uns tempos para cá resolveram se organizar como uma associação cultural e assim têm conseguido dar uma certa sustentabilidade à brincadeira do Reisado, ensinando as crianças, envolvendo os jovens. Ontem foi só um ensaio numa garagem que parecia tremer ao som da zabumba e do pífano. Devo voltar para lá nessa tarde de domingo, pois pode ser que eles façam uma apresentação, com toda a riqueza dos paramentos.

NO PAU-DE-ARARA


O último sorvete das crianças romeiras em Juazeiro do Norte, antes do caminhão entrar na estrada levando a família para casa. Estima-se que a cidade tenha recebido algo em torno de 200 mil romeiros nesse finados.

sábado, 3 de novembro de 2007

GRAN FINALE SERTANEJO

A missa de despedida, oferecida em homenagem aos romeiros, aconteceu hoje na igreja Matriz, ao meio-dia. Casa lotada, muita água benta, gente desmaiando por causa do calor e participação entusiasmada da platéia.
Depois disso, era grande o movimento dos paus-de-arara na cidade, cada um tomando o seu rumo para as mais diversas cidades desse sertão brasileiro.

FOTO SÃO JOÃO


João Braz da Silva, 70 anos, fotografa os festejos pelo Brasil há aproximadamente 47 anos. Natural de Lagoa dos Gatos, Pernambuco, se criou em Juazeiro do Norte, para onde foi com os pais aos quatro meses de vida.
Encostei em sua tenda-estúdio na verdade para conversar com Isaías, que era quem estava fotografando os romeiros e eis que seu João ficou ali, rodeando a conversa. Passei a fitá-lo com mais atenção, pois ele me olhava como se me conhecesse ou então como se eu devesse conhecê-lo. Perguntei: o senhor não trabalhava em Bom Jesus da Lapa? A resposta veio afirmativa e pensei ter desvendado o pequeno mistério, mas seu João fez questão de que eu soubesse mais e começou a contar. João Braz da Silva é o homem, fotógrafo de verdade, que emprestou todo o seu equipamento e assumiu o papel de fotógrafo lambe-lambe no filme Central do Brasil, de Walter Sales. Aproveitei para sanar uma dúvida que me perseguia: em que raio de romaria foi rodada a cena, para mim uma das mais marcantes do filme? Foi então que seu João me explicou que a cena foi filmada em Cruzeiro do Nordeste, pequena cidade pernambucana, e que igreja, santuário e tudo o mais foram cenários erguidos pela produção. "Aquela romaria não existe, meu filho".

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

NEM TUDO É OCRE


Essa imagem é só para fechar o dia, pois foi bom fazê-la. São crianças brincando num cajueiro, no caminho para o Santo Sepulcro.

GRAVANDO A VIDA


O perfil acima é de Stênio Diniz, um dos principais nomes da xilogravura aqui pelo Cariri. Figura respeitada, polêmica, generosa e super divertida, Stênio é um dos mestres do Lira Nordestina, uma espécie de ateliê aberto de xilogravura que tem funcionado dentro da Universidade Regional do Cariri, aqui em Juazeiro do Norte.
Na verdade, Lira Nordestina é o nome que foi sugerido por Patativa do Assaré ao projeto de Stênio de dar novo rumo à Tipografia São Francisco, de seu avô e poeta José Bernardo da Silva, pioneiro da literatura de cordel e do uso maciço da xilogravura em terras de Padre Cícero, lá pelos anos 20.
Ao lado, a reprodução de uma matriz de autoria de Manoel Inácio, um artista plástico local que já trabalhava com desenho e pintura e que há um ano vem se dedicando à xilogravura, freqüentando os encontros quase diários no Lira. Aí embaixo, José Lourenço, também um dos principais gravadores populares aqui de Juazeiro do Norte. Sua produção está essencialmente voltada para a cultura local, tendo produzido belos álbuns sobre a história de Padre Cícero e Patativa do Assaré, entre outros. Ah! Como se não bastasse, ele é um ótimo vendedor. Saí de lá hoje com várias estampas em papel, um conjunto de pequenas matrizes-carimbo em imburana, um jogo de xilo-postais e uma bela série de cordéis.
Bom, agora é economizar pelos próximos dias. Essa bela aquisição vai me deixar mais feliz ao encarar os PFs de quatro reais. O Baião de Dois é uma delícia mas tem limite!

HOJE O DIA ESTAVA MEIO COR-DE-ROSA




Apenas algumas imagens feitas hoje, uma no pé da estátua do Padre Cícero, as outras duas no Santo Sepulcro.

SANTO SEPULCRO AGAIN


Juro que pensei que não fosse conseguir acordar por dois dias seguidos às quatro da manhã para fotografar. Cristiano Mascaro sempre avisou sobre as primeiras luzes da manhã mas eu sempre preferi os finais de tarde, por comodidade, é claro. Mas enfim, em Juazeiro do Norte o dia começa mesmo às quatro e meia da manhã, e pelas nove o calor já está insuportável para um paulistano casca fina.
Hoje fui ao Santo Sepulcro novamente e para suportar a caminhada sob o sol, mesmo às cinco da manhã, água é fundamental. Alguns romeiros levam suas próprias pets.