sexta-feira, 16 de março de 2007

Gore, o herói verde?

No documentário “Uma verdade inconveniente”, Al Gore enfatiza que o seu objetivo é ser o mais claro e didático possível sobre as causas e conseqüências do aquecimento global. De fato, poucas semanas após a divulgação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), assistir ao filme é esclarecedor, quase como ter um mãos um ‘guia’ para as conclusões do IPCC.
Mr. Gore, que calcula já ter feito mais de mil palestras sobre o tema em todos os continentes, apresenta com desenvoltura um mundaréu de dados científicos para platéias ao redor do mundo, utilizando-se de recursos como projeções e animações. Até um trecho de Futurama entra na roda (li que a filha de Gore é roteirista da série, criada pelo ‘pai’ dos Simpsons, Matt Groening). Performático, ele chega a subir numa grua para apontar, no telão, onde foram parar as temperaturas do planeta nas últimas décadas. Em outro momento, mostra, com recursos de computação, o mar invadindo as áreas costeiras e cidades como Manhattan, uma simulação do que nos espera se não conseguirmos evitar o derretimento das geleiras da Groelândia. Convincente.
Os dados irrefutáveis sobre o aquecimento global e a mensagem final, de que ainda é possível reverter o quadro, ocupam 2/3 de “Uma verdade inconveniente”. No restante dos 90 minutos, o ex-vice presidente dos Estados Unidos (ou ‘ex-futuro presidente’, como gosta de se apresentar) dedica-se a mostrar sua trajetória como ecologista, iniciada ainda na década de 60, quando era aluno de Roger Revelle (um dos primeiros cientistas a estudar o fenômeno do aquecimento global). O Gore humano, que “decidiu lutar pelo planeta” ao quase perder o filho na década de 80, o Gore que adorava passar as férias de verão cercado pela natureza na fazenda da família, no Tennessee, que chorou a morte da irmã mais velha, Nancy, em conseqüência do câncer de pulmão.
No final das contas é a imagem de Gore que sai fortalecida de “Uma verdade inconveniente”. Ele nunca foi tão pop: pajeado no Oscar 2007, cerimônia na qual o filme, dirigido por Davis Guggenhein, ganhou o prêmio de melhor documentário; indicado ao Nobel da Paz deste ano; promotor do Live Earth ambiental, um concerto global de 24 horas marcado para o próximo dia sete de julho… só falta, finalmente declarar-se candidato às eleições presidenciais de 2008. Alguém ainda duvida? Os senhores da guerra certamente não, pois já gastam sua munição contra o mocinho, que dá seu recado a certa altura do documentário: “Vontade política é um recurso renovável em nosso país”.

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