domingo, 25 de março de 2007

O punk do sapato branco


"Uau! Até que ele não é tão feio!" foi a primeira frase que me chegou aos ouvidos após Wander Wildner penetrar macio e sem alarde no porão da rua Piauí 103, em seu pisante digno de Jacinto Figueira Jr. Sou obrigado a admitir: Señor Wildner realmente tem estilo.
Tudo bem que pode ser o estilo de um bicheiro de folhetim, de um cafetão paraguaio ou taxista de rodoviária, mas tem. Aliás, estilo e carisma, já que o Camalehon - o local do crime - parecia repleto de fãs fervorosos, daqueles que cantam todas as músicas. Fervorosos e pacientes, pois suportaram bravamente a entediante apresentação do convidado da noite - Flu, ex-De Falla - com sua guitarra sem sal e sem açúcar, acompanhado por um laptop que só fez aumentar a ansiedade pelo bom e velho violão.
Já são quase onze e señor Wildner inicia sua apresentação com uma canção que pede suavemente, "não congele a minha imagem". Embora a marca de Os Replicantes o persiga (tem sempre aquele chato que pede um som da banda que o revelou nos anos 80 do século passado), Wildner faz questão de se esquivar de rótulos, apesar de alimentar a imagem do velho lobo solitário, cujo hino é o rock'n'roll.
É nesse espírito, meio como um bandoleiro cujas vítimas são as almas perdidas que perambulam pelas estradas, que o violeiro selvagem faz de qualquer buraco urbano seu paradeiro temporário e destila como poucos todo tipo de sentimento (incluindo os sintéticos) que vai encontrando pelo caminho. Aí é que o menestrel solta a voz rouca e emocionada, irônica e lírica, dando tons nobres aos ares decadentes das paisagens cantadas e confessa, afinado, que "nem na televisão existem cores tão coloridas, nem nos livros, nem na bebida" e, em outra canção avisa: "Eu não me importo com amores desperdiçados".
O show prossegue com muita música nova, além de várias referências aos amigos do Sul, como De Falla, Graforréia Xilarmônica e Os Pistoleiros. É justamente depois da execução d'Os Pistoleiros que Xico Sá (cujo grau de excitação subia a cada canção) grita da platéia, talvez em Ré Maior: "Meu Johny Cash!!". Exageros à parte, señor Wildner faz um show bastante honesto e com muito amor no coração. É um homem que canta o que vive e o que arde em seu peito, sejam cicatrizes ou delírios de um porra louca. Um músico guiado pelo instinto e pelo prazer de dedilhar seu violão. E o melhor: disposto a rodar por aí. O duro vai ser encontrar um Mavericão que combine com aqueles sapatos brancos...

Um comentário:

Anônimo disse...

"uau!!!"
ok, te dou a licença poética. pode passar.